Sentado no centro do círculo ritual, Jaeyoung mantinha o corpo imóvel, como sempre treinou. As costas retas, as mãos apoiadas sobre os joelhos, a respiração medida. O círculo a sua volta traçado com rigor — sal, carvão, fragmentos de minerais condutores —, tudo meticulosamente preparado para ajudá-lo a controlar o fluxo da energia que buscava despertar.
Mas, mesmo depois de anos de meditação, de treinos físicos, de estudos teóricos e as manifestações do elemento das sombras, ainda havia algo que ele não conseguia eliminar: o reflexo involuntário do medo.
Era sempre na hora final, quando o fluxo começava a se mover, quando as sombras no chão vibravam de leve ao redor dele, que o corpo traía a mente. O peito apertava, o ar começava a falhar e as mãos tremiam.
Não pela dificuldade do feitiço, mas pela lembrança.
O porão.
A porta trancada.
O grito nunca respondido.
O choro de Hyerin.
Os olhos da mãe, opacos, vazios, dizendo: “Se você implorar o suficiente...”
Esse era o verdadeiro obstáculo.
Havia lido que a ponta das sombras não se manifestava de forma explosiva, como ocorria com a maioria das outras.
Para isso, não bastava ter força, nem conhecimento técnico. Jae precisava atravessar o espaço que separava o passado do presente. Precisava convencer o próprio corpo de que estava livre, que a porta não estava mais trancada, que o ar não faltava mais.
Eclipse, sua daemon, sabia disso melhor do que ninguém.
A loba estava sentada ali perto, fora do círculo, tão imóvel quanto ele, mas com os olhos fixos, atentos.
Ela nunca tentava interromper ou aliviar o peso do que ele sentia. Só observava, paciente, esperando o momento em que ele, sozinho, fosse capaz de ultrapassar o medo. — Vai quebrar, menino lobo? — perguntou ela, como fazia sempre, com aquela voz que parecia vir de um lugar antigo, mais fundo que qualquer porão ou círculo mágico.
Jaeyoung não respondeu de imediato.
O peito ainda doía pela tensão, e a respiração começava a se acelerar — não pelo esforço físico, mas pela memória que insistia em se sobrepor ao presente.
Ele abriu os olhos, encarando o centro do círculo, onde as sombras já se mexiam, como sempre faziam quando se aproximava do limiar.
Sabia que o momento estava próximo.
Há anos se preparava para isso: não apenas para despertar a ponta extra, mas para, finalmente, não deixar que o medo decidisse por ele.