O nó no estômago de Jaeyoung era um velho conhecido, mas naquela noite, ele estava mais apertado do que nunca. Aos quinze anos, o seu corpo estava começando a traí-lo, a esticar-se e a engrossar a sua voz de formas que ele ainda não controlava. O fato que usava, emprestado e caro demais, parecia uma fantasia ridícula. Do terraço onde se encontrava com Mirae, ouvia a música abafada de um salão de baile e via as luzes a dançar como pirilampos distantes. Se tivesse comido alguma coisa nas últimas horas, tinha a certeza de que já a teria vomitado. A ideia, como todas as ideias de Mirae, nascera da mais fria e brutal lógica. Ele lembrava-se da conversa, semanas antes, no laboratório deles. Rin, com apenas treze anos, recitava de cor os componentes de um antídoto complexo, e os olhos de Mirae brilhavam com aquele tipo de orgulho que ela só dedicava ao talento puro. Mais tarde, quando estavam a sós, ela olhou para Jaeyoung, para as suas mãos calejadas de tanto moer ingredientes e treinar com adagas, e foi direta. — O seu pai era um artista com isto. A sua irmã é uma artista. Você, menino, é um ferreiro. Trabalhador, esforçado, mas sem a centelha divina. Você pode forjar uma boa lâmina, mas nunca pintará uma obra-prima. — As palavras não o magoaram. Eram apenas a confirmação do que ele já sabia. O que veio a seguir, no entanto, mudou o rumo da sua história. — Mas o seu corpo está a mudar. O seu rosto está a ganhar ângulos que as pessoas acham interessantes. A sua voz, quando não falha, tem um tom que convida à confiança. — Ela contornou-o, os seus olhos de tempestade a avaliá-lo não como um pupilo, mas como uma matéria-prima. — Existem venenos que não vêm em frascos, Jaeyoung. E existem chaves que não são feitas de metal. A sua habilidade mais letal não será destilada num caldeirão. Será cultivada num sorriso, num sussurro ao ouvido certo, num toque calculado no braço de um homem ou de uma mulher.
E assim, ela decidiu que o seu treino mudaria. Menos tempo a memorizar fórmulas, mais tempo a observar pessoas. A aprender a ler a linguagem da vaidade, da solidão, da ganância. A usar um elogio como uma sonda e um olhar como um gancho. De volta ao terraço, ele olhou para Mirae. Queria fugir, desaparecer na noite e nunca mais ver um salão de baile. Mas então, pensou em Rin. Pensou no orgulho nos olhos de Mirae ao olhar para a sua irmã. Ele odiava que ela tivesse o dom tão facilmente, mas teria atirado-se para o fogo para proteger esse mesmo dom. E foi esse o pensamento que o ancorou ali. Ele faria isto. Viraria essa... ferramenta. Para que Rin nunca precisasse. Para que o seu talento com poções fosse sempre o suficiente, para que ela nunca tivesse de aprender a sorrir quando queria gritar. Este seria o seu fardo. — O alvo é o anfitrião, Gunwoo Choi — disse Mirae, a sua voz a arrancá-lo dos seus pensamentos. — Ele tem um novo contrato de fornecimento de minerais mágicos. Quero saber com quem e por quanto. A sua filha, Jihye, está perto da fonte de vinhos. Ela adora homens mais novos com olhos tristes. Mostre-lhe os seus. Ela ajustou-lhe a gravata, o toque dela tão impessoal, como o de um general a inspecionar uma arma. — Lembre-se, Jaeyoung. Você não está lá para se divertir. Você é um instrumento. Encontre a sua marca, extraia a informação e saia. — Com um último suspiro que não conseguiu levar o enjoo embora, Jaeyoung endireitou a postura. Puxou os ombros para trás, forçou uma expressão de tédio confiante no rosto e virou-se para as portas de vidro do salão. Lá dentro, a música, as luzes e o riso eram um monstro de muitas cabeças. Ele deu o primeiro passo para dentro, perdendo-se na multidão. Era sempre um maldito baile.